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História Urbana de Virgínia: A Centenária Casa e os Primórdios do Município

A ocupação da área do distrito sede de Virgínia, no sul de Minas Gerais, é considerada relativamente recente em comparação a outras localidades da região. Até meados do século XIX, a área que hoje compreende o município era dominada por grandes fazendas, sem qualquer traço de povoado ou núcleo urbano consolidado. Enquanto cidades vizinhas surgiam já no século XVII, Virgínia manteve por muito tempo seu caráter essencialmente rural.
 
A formação do povoado que daria origem à sede municipal teve início com a construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, em 1856. O nome original da localidade, Virginea, surgiu em homenagem à santa. A capela foi erguida em terras doadas por fazendeiros da região, marcando o ponto de partida para o traçado urbano. Ao seu redor, abriram-se as primeiras ruas, e surgiram as primeiras edificações residenciais.
 
Um exemplo notável dessa fase inicial da urbanização é a casa localizada na Rua Raul da Costa Pinto, n° 149. Essa residência está situada em uma das primeiras vias abertas na cidade e guarda memórias importantes para a história virginense. Antes de sua construção, o terreno abrigava o que se acredita ter sido o primeiro cinema da cidade, inaugurado na década de 1920. O cinema exibia filmes mudos, com sessões sonorizadas ao vivo pela banda local, cujos integrantes pertenciam à tradicional família Ferreira.
 
Com o encerramento das atividades do cinema, a propriedade foi adquirida por Francisco da Costa Pinto, que demoliu a estrutura existente e construiu, no fim da década de 1920, a casa que permanece até hoje. Pouco tempo após sua conclusão, a residência recebeu pinturas decorativas em seu alpendre e em seu interior. As obras, que retratavam paisagens tropicais e cenas ornamentais, foram realizadas por Tancredo Heitor, artista português que atuou em diversas cidades da região e figura como personagem principal do livro "Pincel de Sangue e Outras Histórias", do escritor Dirceu Guedes da Cunha. A pintura do alpendre ainda está preservada, enquanto as demais foram cobertas durante reformas posteriores.
 
A casa destaca-se por ter sido uma das primeiras da cidade a contar com água e esgoto encanados. Na época, a energia elétrica era fornecida pela Usina do Caetê, localizada na atual Pedra Santa, movida pelas águas do ribeirão de mesmo nome. A rua ainda não era pavimentada e um córrego corria diante da residência. Esse curso d’água foi canalizado no fim da década de 1970, quando a via recebeu calçamento em blocos sextavados intertravados.
 
A região ao redor da casa era composta por amplos terrenos, com hortas, pomares e mangueiras. Uma das construções mais próximas era a Escola Delfim Moreira, também com papel relevante na formação do núcleo urbano. Com o passar do tempo, boa parte das construções históricas da Rua Raul da Costa Pinto foi demolida e substituída por edificações modernas, descaracterizando a paisagem original.